Reportagem

Luta de povos tradicionais, extrativistas e sem-terra para garantir o reconhecimento de suas terras é destaque no encerramento da série que mergulhou no maior bioma do Brasil 

 

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Repórter da Darcy esteve no acampamento Hugo Chávez, no município de Marabá (PA), para saber mais da situação de famílias em busca de terra para sobreviver. Foto: Serena Veloso/Secom

 

 

Texto Serena Veloso

O Brasil é um dos países com maior concentração de terras no mundo, além de possuir os maiores latifúndios. Levantamento do último Censo Agropecuário, divulgado em outubro de 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que 1% dos estabelecimentos rurais concentra quase 48% das terras usadas na produção agropecuária no país. Resultado de processos vindos desde a colonização do Brasil, a distribuição agrária desigual tem se acentuado com o avanço do agronegócio.
 
Segundo o professor Manoel de Andrade, coordenador do Núcleo de Estudos Amazônicos do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares  (Neaz/Ceam/UnB), houve aumento no número de terras ocupadas pela exploração agrícola nos últimos anos. “As áreas agrícolas avançaram sob o território nacional e o número de estabelecimentos diminuiu. Ou seja, aumentou a concentração geral das terras no Brasil. Essa área agrícola, sobretudo o 1% [dos estabelecimentos], é em 90% ocupada por milho, soja, gado e cana-de-açúcar”, afirma o docente.

 

Como consequências, observa-se a disparada de conflitos por terra motivados por interesses econômicos e sociais. A Amazônia Legal brasileira é um dos palcos dessas disputas: 60% das ocorrências de violência no campo no país registradas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) em 2019 se deram no território amazônico.

 

Um dos motivos é que ali está grande parte das terras públicas não designadas no país, ou seja, áreas que pertencem à União, mas que ainda não tiveram seu uso oficial definido, como para implantação de reservas extrativistas e parques nacionais ou para ocupação definitiva – com titulação – de comunidades tradicionais. Em meio a essas situações de violência, estão povos ameaçados de serem removidos de suas terras, seja por ação de fazendeiros ou do próprio Estado, por não as terem reconhecidas formalmente. 

 

O quarto e último episódio do podcast Amazônia Além da Floresta revela esses conflitos. Desta vez, a produção evidencia a luta de quilombolas de Alcântara (MA), famílias sem-terra do acampamento Hugo Chávez (PA) e extrativistas das comunidades de Sete Barracas (TO) e da Reserva de Ciriaco (MA) pela permanência em suas terras. Apesar dos desafios enfrentados, a articulação dessas populações aponta caminhos para construir espaços de resistência e superar as adversidades. 

 

A série de áudios da Darcy, revista de jornalismo científico e cultural da Universidade de Brasília, produzida pela Secretaria de Comunicação (Secom/UnB), é fruto de cobertura jornalística das atividades do projeto de extensão Vivência Amazônica em dezembro de 2019. A iniciativa, coordenada pelo Neaz, promoveu encontro de estudantes, docentes e técnicos administrativos da UnB com os povos habitantes da maior floresta tropical do mundo durante viagem por territórios amazônicos. 

 

Ouça o último episódio do Amazônia Além da Floresta nas plataformas Spotify, SoundCloud e Anchor.

 

 

 

Saiba mais sobre essa experiência em série de matérias publicadas no site Darcy: 

 

>> Viagem a uma Amazônia desconhecida 

>> Viagem a uma Amazônia desassistida 

>> Viagem a uma Amazônia mobilizada 

 

Maior parte dos conflitos por terra em 2019 no Brasil (60%) foram registrados na Amazônia Legal brasileira. Foto: Serena Veloso/Secom UnB